Imóveis tradicionais e memória de bairros em SP se veem ameaçados por demolições e reformas na cidade
A mudança na arquitetura urbana vem alterando o estilo da cidade de São Paulo. Isso pode representar o avanço da modernidade e a melhora no processo de urbanização, porém, também pode sinalizar um perigo para a preservação do patrimônio histórico nas grandes cidades.
A tendência pode, também, representar um perigo para aqueles que estão em busca de uma casa própria, assim como afetar a perspectiva de se morar em um mesmo bairro por muitos anos.
Isso se dá porque um dos motivos que levam as pessoas a escolherem uma casa para passar muitos anos é o bairro onde ela está localizada.
Muitas vezes bairros residenciais, com casas de arquitetura antiga, estão dando lugar para centros comerciais e prédios de alto padrão. Continue lendo para saber por que você deve se importar com os edifícios históricos na cidade de São Paulo.
A preservação da história
Um dos aspectos que compõem a cultura e a história de uma cidade é o seu projeto arquitetônico.
Por mais que os edifícios históricos sejam, muitas vezes, considerados ultrapassados ou fora de moda, eles fazem parte da narrativa que transformou São Paulo na grande metrópole que é hoje em dia.
Dois casos de demolição de edifícios históricos ficaram famosos por causarem indignação na vizinhança.
Um deles foi a demolição em 2010 de um casarão centenário no número 539 da rua Bela Cintra, para dar espaço para um edifício comercial; outro foi o casarão localizado no número 141 da Haddock Lobo, que também foi demolido no fim de 2012.
O que chocou mais a população dos arredores dos locais é que ambos os prédios já possuíam uma função comercial, sendo um bar e um restaurante, e eram pontos turísticos da região.
Para o professor de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, João Verde, essas demolições foram perdas significativas por serem prédios com uma atividade comercial e possuírem uma relação de reconhecimento e carinho dos usuários.
O especialista em projetos de reforma e restauro de móveis, Samuel Kruchin, também lamenta a demolição, principalmente do casarão da rua Bela Cintra, pois era um local com grande apuro arquitetônico, elegância e refinamento.
Tombamento de imóveis
Uma forma de resguardar os imóveis antigos da cidade de São Paulo, ou de qualquer outro município, é através do tombamento.
Órgãos como o Iphan ou o Condephaat devem considerar o edifício como um patrimônio cultural da cidade para que ele possa ser tombado. Um exemplo de edifício tombado é o palacete Franco de Mello, construído em 1905 e localizado na Avenida Paulista.
O tombamento resguarda o edifício de problemas como a demolição, porém não garante sua plena existência. Pois, nas leis de tombamento, não há nenhuma obrigatoriedade com relação à restauração e conservação do edifício.
Isso traz problemas ainda mais sérios para a cidade, por exemplo:
- Pontos de drogas localizados em edifícios tombados;
- Invasões;
- Pichações;
- Destruições de todo tipo podem ocorrer com esses locais.
Por conta desses problemas, a prefeitura atua com um plano complementar ao tombamento, as Zonas Especiais de Preservação Cultural, que trazem incentivos com relação à proteção, ao incentivo e à fiscalização dos locais tombados.
Uma nova arquitetura
Assim como os edifícios históricos, a cidade de São Paulo vem desocupando gradativamente casas geminadas ou prédios baixos para dar lugar aos imóveis de alto padrão.
Em 2020 as demolições na cidade foram 85% maiores do que em 2018, com as áreas mais afetadas sendo a Vila Mariana e a Mooca.
Isso é um problema para a urbanização da cidade, que já enfrenta problemas com a verticalização desordenada e o adensamento das vias de transporte.
Texto: Gustavo Marques